Francisco Louçã bem pode ensaiar permanentemente a pose de quem veio directamente do 5º anel de saturno para a política portuguesa – é lisboeta, cresceu lisboeta e fala com precisão. Percebe-se perfeitamente que, como se exige a qualquer político, é capaz de desenvolver em simultâneo dois ou mais raciocínios: o do que está a dizer, e o do cálculo das suas interpretações, pelo público e pelos pares. Louçã sabe perfeitamente o que sempre foi, para qualquer português e para qualquer lisboeta, dizer de alguém que é manso, ou que está manso, ou cada vez mais manso. Na Lisboa grunha, homem que não desse uma tareia à mulher se ela viesse gira à rua, era um corno manso. Aquele? É boi manso! Como li aqui, é como Ana Drago a qualificar o governo de Barroso como docemente submisso. Discursos a um milímetro da fronteira da provocação explícita, mas guardando o milímetro que permite recuar para a igreja das virgens ofendidas e politicamente correctas. O que isto tem de irritante é vir de quem pretende sempre arrastar a luta política para o campo da moral e da ética, mas não hesita em usar no discurso a arte da dissimulação. De quem anda sempre a querer legalizar e normalizar a diferença mas que, depois, usa o significado reaccionário que essa diferença tem no simbólico colectivo para provocar o adversário. Como aprendi na escola, chama-se a isto ser sonso. E o pior lugar para a sonsice é a política.
Mário Rui (Palâtre)
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