‘Os estucadores estendem as suas invenções na talocha e com a colher atiram argamassa, só um bocadinho de cada vez, a ver se pega. Há-de pegar, porque eles sabem do que a casa gasta. Dez mil euros, microfones direccionais, raio de acção de 40 metros... - os jornalistas adoram pormenores. Isca engolida, há que manter as doses: dia sim, dia não, mais uma colherada. Nesta fase, um processo é como na maionese, não se pode parar. Bem servidos, há sempre jornalistas que comem tudo. Um dia, no caso da Joana, aquela menina algarvia que desapareceu, uma jornalista contou as últimas palavras da menina, atirada contra a parede... Em tribunal, o desaparecimento ficou nebuloso, só houve condenações porque houve confissões logo desmentidas, nada se soube e sabe do que aconteceu. Mas as últimas palavras da Joana ficaram preto no branco...Voltando ao meu processo. A 5 de Novembro, havia gravações de Vara a pedir dez mil euros. Hoje, sabe-se que nunca houve gravações. A minha sentença: há investigadores e/ou jornalistas mentirosos no Caso das Falsas Gravações de Vara dos Dez Mil Euros. São curtas as conclusões do meu processo, mas têm o mérito de se basearem em factos.’
Ferreira Fernandes, Resolvido O Caso do Microfone Direccionado
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