Nesta campanha verbal, Obama reabilitou a retórica política, dando-lhe um novo cuidado e uma nova apropriação. Foi esse o ponto de aplicação em que firmou a alavanca do seu triunfo. Ouvi-lo é voltar a ler a Retórica de Aristóteles. Ele convence porque argumenta (logos), porque emociona (pathos) e porque há um “eu” que diz “vós” e é reconhecido (ethos).
Ao fim de oito anos em que, na boca de Bush, a palavra política foi afasia, gaguez, balbucio, contrafacção e esgar, o discurso eloquente de Barack Obama parece um tributo aos oradores clássicos. Se Obama será eleito (há sempre quem se tenha viciado no esgar), veremos. Se, eleito, resistirá à lógica da máquina infernal, saberemos. Para já, a reanimação de um verbo político inanimado é o início de um início. Num mundo que parecia já não suportar começos, este pode ser um caminho que atravessa o deserto. Porque a dignidade da política começa na dignidade da palavra que a diz.
José Manuel dos Santos
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