17 de dezembro de 2010

Um caso de cheiro a caca

A semana passada os pasteleiros e donas de casa foram sobressaltados com a escassez de açúcar, as prateleiras das grandes superfícies ficaram com um ar africano, os merceeiros queixaram-se de que não dava para as encomendas e parecia haver um sério risco de aos amargos de boca da austeridade teríamos um sério problema devido à impossibilidade de adoçar a boca com um torrãozinho de açúcar.


Perante o pânico do país os homens da distribuição fizeram comunicado assegurando a reposição do produto uns dias depois, para de seguida assegurarem que tudo estaria normalizado no final desta semana, entretanto, os felizardos conseguiam comprar dois pacotinhos de quilo gentilmente vendidos pelo hiper em regime de racionamento. Quando tudo já estava resolvido o país percebeu que sempre há um ministro da Agricultura, o pobre homem lá apareceu a tranquilizar os portugueses, no fim da semana já teriam a boca doce.

O que ninguém explicou foi a razão de tão grave escassez de açúcar.

Pois é, o nosso Belmiro de Azevedo colocou nas suas prateleiras açúcar de beterraba vindo de Espanha que foi embalado à pressa e por isso ficou a cheirar a caca, aquilo a que vulgarmente se chama merda. Perante as reclamações tiveram que retirar o açúcar das prateleiras e como ninguém explicou aos consumidores que o açúcar do Belmiro teve de ser retirado porque cheirava a merda, deixaram no ar uma crise de abastecimento de um produto especialmente procurado nesta quadra natalícia.

Curiosamente uma televisão ainda entrevistou uma técnica da refinaria de Santa Iria de Azóia, quando o problema teria sido melhor esclarecido em Coruche, onde fica a DAE que embala o açúcar de marca branca vendido nos Continentes e Modelos e que poderá ter intermediado o negócio por falta de ramas para refinar.

Coincidência, ou talvez não, o negócio da DAE tem um cheiro parecido ao do açúcar do Belmiro, a concessão de ajudas para instalar uma beterrabeira que nunca fez falta ao país foi uma das últimas decisões de Cavaco Silva nos tempos em que Portugal era um bom aluno. Foram muitos milhões de contos para uma beterrabeira que foi entre à Caixa de Crédito Agrícola e a um operador italiano, tendo a gestão da empresa sido entregue a um tal Cabrita que era um alto responsável no ministério da Agricultura.

A DAE durou pouco, recebeu ajudas comunitárias e mandou a beterraba à fava, mas Jaime Silva que é um rapaz simpático e em tempos teve como chefe o tal Cabrita ajudou a DAE a transformar-se em refinaria com acesso à quota de ramas de açúcar (de cana). Agora parece que a empresa que Cavaco ajudou a fundar com dinheiros públicos dedica-se a fornecer a SONAE com açúcar a cheirar a caca.

Enfim, neste país há muito cheiro a caca.

O Jumento

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