‘A esmagadora maioria das lideranças europeias pertence, neste momento de crise, à direita ultraconservadora (23 em 27 Estados membros), pouco tendo a ver, no plano político-ideológico, com as velhas democracias cristãs do centro, que, com os socialistas, contribuíram, nos últimos cinquenta anos, para consolidar o projecto europeu. Pelo contrário, as lideranças actuais parecem não sentir a importância da Europa como projecto político de paz, de democracia pluralista, de bem-estar para os europeus e, sobretudo, de unidade e solidariedade entre os Estados membros, com um contrato social que constitui uma das principais identidades europeias. E, por outro lado, parecem pensar, de novo, em termos de um certo nacionalismo serôdio - cada um por si e os outros que se arranjem - que, no século passado, não o esqueçamos, conduziu a Europa a duas hecatombes mundiais.
Não compreendem - ou não querem compreender - porque sendo, como são, neoliberais, para os quais os valores que mais contam são o dinheiro e o lucro pelo lucro, ignoram as pessoas, os princípios éticos e as causas que nos conduziram à crise global em que nos encontramos. Assim, a União Europeia, entendendo-se mal entre si, está paulatinamente a deixar de ser uma referência política e moral para o mundo, por mais que a baronesa Catherine Ashton, britânica e trabalhista, esteja a tentar montar um sistema diplomático europeu unitário, sem, contudo, haver uma política externa concertada da União...’
Mário Sores, A crise do euro
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