26 de agosto de 2010

A esperança que veio do fundo

Quando lhes chegou a primeira sonda - ao fim de 17 dias perdidos a 700 metros de profundidade -, mandaram uma mensagem. Bastava ser sinal de vida para Santiago do Chile, a 900 quilómetros de distância, explodir de alegria e buzinas, como aconteceu. Mas a mensagem era mais do que isso: "Estamos bien en el refugio los 33", dizia. Jornalista há décadas, quem me dera ter sabido sempre responder tão bem a "o quê?" e "quando?" (condensados em "estamos bien"), "onde?" ("en el refugio") e "quem?" ("los 33"). A boa informação precisa também de resposta a "porquê?". Pois essa foi a resposta mais brilhante: sendo tão sucinto e exacto o bilhete dizia que o milagre aconteceu porque aqueles 33 homens são sobreviventes. No sentido dos que forçam o destino. Foi, pois, uma mensagem de esperança, a dos mineiros. Isto é, fiquem para trás os 17 dias e fixemo-nos nos quatro meses que faltam, com a broca furando seis metros ao dia, até ao resgate de todos. É possível, garantem-nos outros bilhetes em sentido inverso. Carolina para o pai, Franklin Lobo, 53 anos, que foi internacional de futebol: "Queria mandar-te uma bola, mas não cabe no buraco." Os irmãos de Victor Zamora, de 33 anos: "Fartamo-nos de rir com que o que estás a ganhar em horas extraordinárias." Einstein, no aeroporto de Nova Iorque: "Raça? Humana." Esta última parece não ter a ver com o caso, mas tem: sou eu, orgulhoso dos meus.

FERREIRA FERNANDES

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