Há meia dúzia de dias, por volta das sete da tarde, fui «levantar» dinheiro a um Multibanco. Estava completamente sozinho, sem ninguém à vista. Prestes a terminar a operação, alguém chegou e colocou-se atrás de mim. Era um homem de oitenta e tal anos, um típico camponês do barrocal algarvio. Ao retirar-me, ele pediu-me um favor: passou-me para a mão um cartão Multibanco, deu-me um pequeno papel branco onde estava escrito o código e pediu-me para lhe levantar vinte euros. Ainda esbocei uma crítica à sua imprudência, mas desisti perante a ingenuidade da resposta: já não vejo bem. Fiz a operação, entreguei-lhe o cartão, o papel com o código, o dinheiro, o talão do recebimento e parti, enquanto ele contava as 4 notas de cinco euros. Hoje, ao ver a primeira meia-hora do «debate» (medidas contra o crescimento do desemprego) com os candidatos às europeias, na RTP1, lembrei-me do bom homem que me abordou no Multibanco. Nem um dos candidatos lhe dirigiu uma frase, uma palavra que ele entendesse. O abismo entre os eleitos e os eleitores, sobretudo as pessoas «simples» do interior do país, está irremediavelmente cavado e ainda é mais visível nos temas «europeus». Todos os candidatos falam num «dialecto» esquisito, como se estivessem a falar para os seus pares, no Parlamento, na Universidade, na redacção de um jornal. Um desastre!
Por Tomás Vasques
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