17 de março de 2009

Paradoxos Sindicais

“A manifestação da CGTP é um exemplo paradigmático: não dependeu de convocação de greves, nem assentou em reivindicações do tipo laboral. A resolução que convocava a manifestação apontava para um "mudar de rumo: mais emprego, salários e direitos". Um programa político que, ao mesmo tempo que implica uma mudança radical, não passa de um enunciar vago de princípios. Aliás, no que é mais um paradoxo, a CGTP tem revelado uma capacidade de mobilização superior em torno de programas políticos amplos do que quando o faz em torno de reivindicações concretas. Basta recordar que quer a nova lei de bases da segurança social, quer o novo código do trabalho, foram muito criticados pela CGTP mas não foram alvo de manifestações populares tão intensas.Este tipo de afirmação do movimento sindical é arriscado. Ao mesmo tempo que desvaloriza o papel dos sindicatos na defesa concreta dos direitos laborais, politiza a sua acção a níveis que, aumentando a sua capacidade de mobilização, circunscrevem-na a uma base de recrutamento estanque. Independentemente do número de manifestantes que esteve presente em Lisboa, a politização da mobilização sindical restringe este movimento a uma contestação de base política, com efeitos perversos para a afirmação sindical.”

Pedro Adão e Silva, Paradoxos sindicais

Sem comentários: