"Aproveitámos algumas dessas ajudas, outras não. Electrificámos o país todo, levámos água e saneamento básico a todo o lado; demos um sistema de segurança social a todos, até aos que nunca tinham contribuído financeiramente para ele; levámos a escolaridade obrigatória a níveis impensáveis, exterminámos o trabalho infantil, reduzimos a mortalidade infantil praticamente a zero. Mas não aproveitámos para modernizar nem a agricultura, nem a indústria, nem a justiça, nem o Estado. Por pressão dos lóbis e das corporações, por pressão da demagogia pública, criámos a ficção de sermos ricos e montámos um Estado cujo funcionamento é financeiramente insustentável. Hoje, achamos intolerável que não apareça imediatamente uma ambulância com desfibrilador à menor indisposição de um cidadão, que não apareça um helicóptero imediatamente após um acidente ou um avião após deflagrar um foco de incêndio, que não se mantenha uma urgência hospitalar aberta de noite, com médicos, enfermeiros e material, para atender dois ou três doentes ou que não se mantenha uma escola aberta com meia dúzia de alunos.
Se houvesse coragem e lucidez dir-se-ia às pessoas que este estado de coisas é insustentável. Que a geração que agora chega ao mercado de trabalho não vai poder contar com reformas daqui a quarenta anos, como a actual e a anterior; que o serviço de saúde público, tal como existe, cada vez mais caro e mais amplo, só tem cabimento financeiro se os impostos subirem exponencialmente. Mas, quem o disser, está morto politicamente.
Se pensarmos racionalmente, concluiremos que chegou ao fim um ciclo. Não apenas um ciclo económico, mas um modo de vida. Já fomos salvos pelo ouro do Brasil, pela riqueza das colónias, pelo FMI e por Bruxelas. Não vejo no horizonte nada mais, a não ser uma radical mudança de mentalidade e de atitude, que agora nos possa salvar. Mas, a curto prazo, que ninguém tenha ilusões: não vamos para melhor."
14 de julho de 2008
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