17 de junho de 2008


O futebol faz de mim idiota. Pior: faz de mim idiota incoerente. Posso sentir-me furioso com o circo mediático à volta da selecção e prometer solenemente desligar o televisor à hora dos jogos - dez minutos antes do início, já estou diante do altar da TVI com o coração a bater mais depressa. Não chego a rezar à Nossa Senhora do Caravaggio, mas fico lá perigosamente perto.
Posso repetir que tudo isto é um exagero, que estupidez, porra, o futebol não é maior do que a vida - sinto-me tão ansioso durante aquela hora e meia que até parece que a minha felicidade depende de um golo na baliza adversária.
Estou marreco de saber que os êxitos da selecção contribuem para alienar os portugueses dos verdadeiros problemas do país - o único problema que eu quero ver resolvido é como evitar que a bola entre na nossa baliza, o resto que se lixe. Colocar os destinos da nação nas mãos do Ricardo é um claro sinal de senilidade.
Detesto fanatismos de qualquer espécie, mas dou comigo a esfregar as mãos de contentamento quando os cabrões da Grécia foram eliminados, portanto tomem, embrulhem e viva a Rússia, porque na final do Euro2004 preparava-me para gritar «Somos Campeões!» e acabei a noite engasgado com uma espinha grega.
Tenho a certeza de que toda esta histeria à volta da selecção nacional é mais provincianismo do que sentido patriótico, mas é inútil porque no fundo sou tão provinciano como os outros. De vez em quando - e absolutamente contra a minha vontade - a imaginação sobrepõe-se à realidade e dou comigo a imaginar o momento em que levantamos o caneco de campeão europeu numa explosão de perdigotos e fitinhas de Carnaval.

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