É evidente que mais do que o preço dos combustíveis o que incomoda os armadores é a escassez de peixe e as margens praticadas pelos intermediários. O aumento do preço dos combustíveis tem um peso no preço do peixe no consumidor muito menor do que os lucros dos diversos intermediários do negócio.
Mas se esta situação não é nova o que justifica a revolta dos armadores? Pelas exigências que fazem ao ministro da Agricultura percebe-se que querem algo mais do que uma compensação pelo aumento do preço do gasóleo, pelo passado destes “empresários” não é difícil de adivinhar que querem duas coisas: desregulamentar a pesca para terem acesso ao pouco peixe que resta na costa portuguesa e mais subsídios.
Já conheci dezenas de armadores mas nunca vi nenhum falir, mudam de arte de pesca, abatem os barcos a troco de subsídios ou vendem as licenças de pesca aos espanhóis, mas na falência nunca vi nenhum.
Desta vez têm os seus empregados ao seu lado, o que não é novo, esta união na luta não é inédita em Portugal nos últimos tempos. Há mesmo que se esqueça de que as condições laborais no sector da pesca são uma herança do passado e se una aos armadores contra o inimigo comum, o governo que neste momento gere o orçamento, a grande fonte de rendimentos de muita gente.
Porque hão os contribuintes subsidiar os armadores? Quando as gambas eram vendidas a mais de 20 contos o quilo na lota de Vila Real de Santo António e um mestre de pesca ganhava muito mais do que o Presidente da República ninguém se queixava do preço do gasóleo que já era caro. Mas agora que esgotaram os stocks até quase à exaustão e quase extinguiram a espécie calculo que querem um subsídio para a reconversão, isso para os que ainda não venderam as licenças aos espanhóis, os memos espanhóis cujo pescado não querem que entre em Portugal, porque os nossos armadores acham que os consumidores devem ser seus reféns, nem que para isso tenham que destruir o peixe comprado por pequenos comerciantes.
Agora também se fala da intenção da CAP, que reúne principalmente produtores de cereais, também questiona a hipótese de aderirem às manifestações. Compreende-se, com o aumento dos combustíveis e o movimento dos pescadores também lhes cheira a palha, querem mais uns subsídios ou, pelo menos, meter um dos seus no ministério da Agricultura, para que tenham acesso fácil e descontrolado às ajudas comunitárias. É preciso descaramento para que depois de estarem a vender a produção a quase o dobro do preço de há duas campanhas, ainda virem para a rua armados em parvos é demais. A verdade é que nos últimos dez anos nunca ganharam tanto como estão a ganhar agora, e ainda dizem que têm de usar mulas porque os gasóleo dos tractores está caro. Pelos vistos o gasóleo dos Range Rovers, dos Mercedes e dos BMW está mais barato.
É preciso tomar medidas na agricultura e na pesca, mas para assegurar uma melhor distribuição de rendimentos, para garantir o uso equilibrado dos recursos marinhos e para garantir que as medidas os muitos milhões de subsídios já concedidos e que ainda serão pagos a estes sectores não fiquem apenas nas contas dos armadores e proprietários agrícolas, promovendo mais justiça social na pesca e na agricultura.
O Jumento
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