2 de março de 2006
Reflexões.
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Acresce que os órgãos próprios do topo dos partidos - comissão política, secretariado - foram normalmente eleitos em função da correlação das forças partidárias, como emanação do aparelho "de baixo", a que se junta um pequeno grupo de próximos do líder, que lhe são pessoalmente leais, mas que não chegam a fornecer consistência aos órgãos de direcção. Estes são cada vez mais federações de grupos e menos uma equipa coesa. Para além disso, são cada menos úteis como órgãos de aconselhamento, visto que as fugas sistemáticas de informação os torna inadequados a decisões importantes. A tendência é para as lideranças dirigirem o partido na base da conjugação entre um grupo de pessoas leais, um grupo dentro de um grupo, e outro tipo de órgãos informais destinados a dar o suplemento de "prestígio" e capacidade a órgãos formais que não os têm. Daí a proliferação de task forces, interiores, com um poder que não é escrutinado pelos órgãos partidários, e de "órgãos de prestígio" que não têm um efectivo poder na condução da política partidária. São tudo soluções de recurso e não resolvem o problema de fundo: dar aos órgãos formais a capacidade política e o prestígio público que eles não têm e fazê-los funcionar com discrição e reserva nas decisões delicadas e com influência enquanto "vozes públicas".
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São precisos novos instrumentos e novas formas que permitam uma qualificação das direcções "de cima", que só podem ser levadas adiante e ganhar credibilidade quando se defronta a dupla resistência da mediocridade e dos interesses instalados, coisas que os partidos deixaram crescer até um nível crítico. Sem isso, nem por baixo, nem por cima, os partidos conseguirão manter a influência cívica na sociedade.
Pacheco Pereira
Abrupto
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