27 de janeiro de 2006

Reflexões

Pouco a pouco, os partidos políticos democráticos (PS, PSD, CDS) conhecem uma lenta, mas segura, dissolução. Se se quiser, assiste-se uma mudança para outra coisa, menos poderosa, mais vulnerável do que a anterior, mais frágil. Esta é uma afirmação que se tem que escrever e ler com muita prudência, uma afirmação que deve ser lida com um grão de sal, e acima de tudo não deve ser tida como uma constatação de um facto, mas de uma tendência. Todavia, como tendência parece-me ter fundamento, à luz de mais uma série de acontecimentos recentes ocorridos à volta das eleições presidenciais. Não é um juízo de valor, é uma constatação de facto.

(…)
A maioria das estruturas locais dos partidos é hoje constituída por pequenos grupos fechados, com pouca renovação (quase só feita pelo turnover geracional com as "juventudes" partidárias), estreitamente associados ao poder autárquico, quer estejam no governo, quer estejam na oposição. A ligação ao poder autárquico é correlativa da ligação com outro vértice do triângulo, os interesses da construção civil e da urbanização, que dissolvem a especificidade partidária.Todo um conjunto de outros subsistemas está ligado a este cluster, incluindo associações locais, bombeiros, clubes de futebol, jornais e rádios locais, associações "culturais". A autonomia respectiva de cada um deste tipo de subsistemas ante o sistema autarquias-partidos políticos-interesses económicos é muito escassa. A alternância entre oposição e situação faz-se dentro de uma plataforma de interesses instalados rígida, muitas vezes favorecida pela participação da oposição local no governo da autarquia por via da concessão de pelouros ou de lugares nas empresas municipais. Também o corpo e os membros dos partidos estão doentes, para não dizer que já mutaram para outra espécie de animal que não o homo sapiens.

Pacheco Pereira
Publico

Interessante artigo de Pacheco Pereira.
Convêm fazer-se uma reflexão séria sobre o papel dos Partidos Políticos no actual panorama social Português, é urgente que aqueles que estão ou têm algum tipo de responsabilidade a nível Politico/Partidária estejam atentos ás mudanças que se estão a efectuar, quem de alguma forma preferir ignorar o que se está a passar corre o risco de ficar a ver “a banda passar”.
Quem tem a coragem de começar a alterar este cenário ?

2 comentários:

Artur Coelho disse...

Quem está fora dos partidos normalmente tem uma opinião pouco lisonjeira sobre os elementos partidários. Os elogios mais... suaves que se costumam fazer envolvem a palavra clientelistas...

Kata disse...

Embora tenha consciência que a minha opinião é um pouco radical e, acima de tudo, utópica, vejo os partidos - e especialmente os interesses que se sobrepõem aos seus estatutos - como os grandes responsáveis do estado actual da nossa "pulhítica". Vá-se lá saber porquê, mas partido representa aquilo que não é inteiro. E se o inteiro (inteiro num sentido dinâmico, tolerante, numa aceitação convergente das divergências, de compreensão das diferenças, de esfera comum onde todos nós, sendo necessariamente diferentes, cabemos) se partiu há muito, creio que hoje, em vez de partidos, temos cacos... o caco socialista, o caco social-democratos e demais caquitos... quais grãos de areia.

Uma anarquia consciente e generosa a começar na responsabilidade de cada um seria o ideal. Utópico?! sem dúvida. mas é uma luta de cada um. eu faço a minha...

vide também post chamado "liberdade para criar..." em http://sungreenhills.blogspot.com

Meu amigo Pedro: aqui vai um abraço gigante! bem maior que o inteiro que é composto por todos os partidos juntos. Será que estes, quando juntos, têm folgas? ;)

adoro os jogos de palavras... mas, eu sei, são pura retórica.